Enquanto
dirijo o carro, me deparo com aquela figura típica da minha rotina: o homem que
limpava as ruas todos os dias. E dessa forma, ele vinha me cumprimentar com
sorriso no rosto, e algumas vezes cantando suas músicas preferidas. Apesar das
dificuldades financeiras, sabia que podia ser feliz. E todos os dias eram os
mesmos, após varrer a rua, o cara ainda fazia o favor de encaminhar os lixos
para coleta. Perguntava-me sempre que recordava do fato: ‘A troco de que ele
fazia isso?’ Mas como eu observara que ele se sentia bem esqueci esse
questionamento.
Em mais um
dia de faculdade, enquanto eu tirava o carro, o rapaz pegava os sacos de lixo,
e acenava para as pessoas que iam exercer suas atividades matinais como de
costume. Parei o veículo, e ofereci uma nota de dez reais a ele. O mesmo
rejeitou, mas insisti. Eu sabia que ele necessitava daquele dinheiro, sabia que
aquela nota poderia garantir algo a mais, mesmo que não fosse muito. Ele me
agradeceu, com o sorriso amarelado no rosto, e o olhar alegre.
Em certa
ocasião, enquanto eu lavava o carro na porta de casa, percebi que o homem
estava um pouco desnorteado, preocupado, talvez. Com meu ar de curiosidade
vindo da área jornalística não pude deixar de perguntar o que estava
acontecendo. O rapaz alegou que não tinha nada, eu insisti. Foi então que após
a minha terceira tentativa ele desabafou. Disse-me que havia achado uma coisa:
fiquei esperando 5 minutos até ele voltar com o pacote. Ao abrir percebi que
havia 50 mil reais, além do nome de um empresário!
Meus olhos
estavam arregalados. O homem me contou que havia achado ao varrer uma parte da
rua. Refleti comigo o quanto aquele dinheiro poderia mudar a vida dele, da sua
mãe... Mesmo sendo poucos pra uns aquilo seria uma fortuna aplicada à situação
financeira em que se encontrava! Eu já havia feito planos com a quantia que não
pertencia a mim para benefício do meu colega, nossa... Como sou intrometida!
Nem cogitei a possibilidade de destinos diferentes, ou algo do tipo, apenas
pensei nos gastos e tudo mais.